Meu contato com culturas diferentes começou ainda na infância quando eu ia sozinha passar as férias de final de ano na casa da minha avó em Nova Iorque. Ela saiu do Brasil em busca de uma situação econômica mais confortável e fez sua vida nos EUA. Como não podia tirar três meses de férias para ficar comigo, minha avó me colocava na escola pública onde eu convivi com a comunidade local, aprendi inglês, além das matérias obrigatórias da escola primária estadunidense.
Era um mundo completamente novo, tanto em relação ao clima frio de Nova Iorque quanto em relação ao contato com crianças estadunidenses com comportamentos e com um idioma diferentes dos meus. A experiência escolar somada à diversidade cultural de uma das cidades mais cosmopolitas do mundo me fez, apesar da pouca idade, descobrir a beleza e as dores de ser diferente.
O contato com pessoas de diversas nacionalidades que faziam parte do círculo social da minha avó (vizinhos, amigos e colegas) me fez perceber o quanto o ser humano é diferente e ao mesmo tem tantas coisas em comum entre si.
Esta experiência de infância contribuiu na escolha da minha graduação em Psicologia, entender o que nos faz únicos, mas ao mesmo tempo tão iguais me guiou nessa jornada.
Recém-formada em 2001 tive a oportunidade de trabalhar na Guatemala, como psicóloga social, em um programa de combate à extrema pobreza. Lá tive contato com refugiados(as) guatemaltecos(as) que retornaram ao país após a assinatura do Acordo de Paz firmado em 1996 após 36 anos de guerra civil no país.
Após a Guatemala me mudei para Madrid para cursar o Master em Cooperação Internacional e Gestão de Projetos. De lá fui para o Japão como bolsista do Ministério da Educação, Cultura, Desporto, Ciência e Tecnologia do Japão. Escolhi trilhar um novo caminho nas Ciências Humanas ao optar por estudar Antropologia Cultural por considerar ser este um complemento importante para me aprofundar no entendimento do ser humano como um ser social.
Durante meu mestrado e doutorado conduzi pesquisa etnográfica na comunidade transnacional brasileira no Japão, tendo como uma das principais metodologias de investigação a observação participante, ou seja, trabalhei em fábrica e em uma loja de produtos brasileiros para vivenciar a realidade dos imigrantes. Durante este tempo pude me especializar em temas essenciais que permeiam minha clínica sendo alguns deles: noção de pertencimento, identidade cultural, imigração, renegociação identitária, preconceito, papel das religiões na adaptação cultural, educação multicultural e relações de gênero.
O interesse em focar minha clínica em imigrantes ganhou força durante o período em que vivi no Japão, onde além de estudar antropologia também pude continuar me aprofundando em psicologia clínica.
Minha experiência internacional continuou mesmo após meu regresso ao Brasil em 2010 quando trabalhei para a Agência de Cooperação Internacional do Japão com projetos de cooperação triangular em países Africanos e Caribenhos.
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