Deixar o país de origem nunca é fácil, ao imigrar renuncia-se ao conhecido, à família, casa, amigos(as), trabalho e à proteção afetiva. Estar em uma sociedade com códigos culturais completamente diferentes dos nossos é um grande desafio para qualquer um, no entanto, ele se intensifica no caso das mulheres que precisam lidar com preconceito por não serem homens e por serem brasileiras.
A mulher brasileira sofre assédio no Brasil e no exterior, mas fora do país a sensação de insegurança pode ser maior devido ao fato de se estar em um ambiente menos conhecido.
No imaginário estrangeiro há a ideia do Brasil como um país em que tudo é permitido e nisso se inclui a objetificação das mulheres brasileiras e a exotificação de nossa cultural resultante da miscigenação de diferentes povos.
Homens estrangeiros habitualmente acreditam ter uma abertura com a mulher brasileira que não têm. Em muitos países as mulheres brasileiras são associadas com prostituição e na lógica patriarcal e machista de muitos homens é como se isso de alguma maneira autorizasse a importunação sexual.
São inúmeros os relatos de assédios sofrido por mulheres brasileiras no exterior, nos mais diversos ambientes, seja no trabalho, na universidade, em momentos de lazer ou em atividades do cotidiano. A objetificação da mulher brasileira junto à xenofobia, comum em muitos países, resulta em um ambiente hostil para muitas imigrantes brasileiras.
Mulheres adultas brasileiras não são as únicas vítimas de preconceito, em Portugal, por exemplo, muitos casos de xenofobia e bullying envolvendo meninas brasileiras em escolas foram denunciados. Falas preconceituosas com conotação sexual são usadas mesmo contra crianças brasileiras.
Tamanha violência pode causar traumas em mulheres e meninas que passam por tais situações. É preciso reforçar que a culpa do assédio nunca é da vítima, não há nada que justifique a violência, não importa a roupa que a mulher está vestindo, sua maneira de andar, de falar, de dançar, nada disso representa consentimento para a importunação sexual.
Nas sociedades patriarcais, em que não há igualdade de gênero, é necessária uma mudança estrutural por meio da educação. Um bom exemplo é a Austrália que a partir deste ano (2022) terá em todas as escolas, de todas as séries, lições educacionais fundamentais sobre consentimento, abuso sexual e noções básicas de relacionamentos respeitosos.
A iniciativa, no entanto, partiu da sociedade civil, quando uma estudante australiana e ativista de 23 anos, Chanel Contos, fez uma enquete em uma rede social para saber de seus seguidores se alguém próximo a eles havia sido agredido sexualmente na escola. Chanel recebeu mais de 200.000 respostas e relatos, o que a motivou a iniciar o projeto Teach Us Consent que resultou na mudança de política pública.
Passar por situações de assédio comumente gera nas mulheres sentimentos de raiva, tristeza, impotência, frustração, depressão e medo. Quando a vítima é uma imigrante o receio de denunciar e passar por mais constrangimento é frequente, pois a mulher está fora de seu país e se sente menos protegida, portanto, fazer a denúncia do agressor nem sempre é fácil, mas é importante que se faça, até mesmo para evitar que o agressor faça novas vítimas.
Lidar com tamanho sofrimento é um desafio que se junta com inúmeros outros na vida da imigrante que diariamente tem que desenvolver mecanismos psíquicos e culturais para se adaptar à sociedade anfitriã. Buscar grupos de apoio é recomendável, pois a percepção de que a mulher não está sozinha contribui para a cura.
A psicoterapia individual também é uma maneira eficaz de trabalhar tais questões e superar traumas, o acompanhamento psicológico irá ajudar a mulher a identificar suas dores e descobrir formas de trabalhá-las para que elas não a paralisem e sejam ressignificadas.
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