No dia 11 de março de 2020, Tedros Adhanom, diretor geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), declarou que a OMS elevou o estado da contaminação de Covid-19 à pandemia.
Estamos passando por um momento único em que vimos nossas relações sociais se transformarem e de certa forma tivemos nosso círculo social reduzido graças às medidas de isolamento impostas para conter a pandemia e o número de mortes da população mundial.
Para algumas culturas como a brasileira, o peso do distanciamento e a restrição do contato físico têm demonstrado ter um impacto na maneira em que nos relacionamos em sociedade e em como entendemos e construímos nossa afetividade.
A mudança do trabalho presencial para o home office também afetou as relações familiares. As escolas fecharam e as crianças passaram a ter aulas on-line. A convivência familiar 24h por dia, aumentou o estresse entre as pessoas. A separação entre a vida profissional e a vida privada foi abalada no momento em não havia mais distinção entre os ambientes de trabalho, escolar e doméstico. Neste contexto, a violência contra a mulher aumentou, assim como o trabalho realizado por ela no cuidado dos filhos e da casa. Se antes as mulheres já sofriam com a dupla jornada de trabalho, com a pandemia podemos dizer que a sobrecarga sobre elas triplicou.
Outra fonte importante de estresse e ansiedade durante a pandemia foi o desemprego que pegou desprevenida grande parte da população brasileira. A fome aumentou consideravelmente e não raro são os casos de famílias que foram obrigadas a morar nas ruas por não terem condições para pagar aluguel.
A situação política e econômica do país, que já vinha piorando desde que o atual governo tomou posse, foi agravada com os efeitos da pandemia, gerando ainda mais conflitos e inseguranças na sociedade brasileira.
A morte e o luto se fizeram presentes em muitas famílias a medida em que a contaminação do novo coronavírus e suas variantes se espalharam pelo planeta fazendo milhões de vítimas. Em um momento como este o nível de estresse e angústia com que somos obrigados a lidar diariamente aumentou consideravelmente resultando em desequilíbrios mentais que caso não sejam tratados podem nos trazer sérias consequências.
Mesmo após o início da vacinação, o medo da própria morte e da morte de pessoas amadas passou a ser mais forte e real para muitos, o que frequentemente nos exige lidar com sintomas de ansiedade e depressão. Casos de insônia passaram a ser mais comuns na clínica. Vivenciar a perda do mundo como o conhecíamos nos leva a um lugar de solidão impar e nos obriga a desenvolver novas habilidades culturais e ferramentas psíquicas para conseguir conciliar nossa existência como seres sociais à uma realidade em que o social se torna uma ameaça a essa própria existência.
No caso de pessoas vivendo fora do seu país de origem a preocupação com familiares e amigos que ficaram pode ser acentuada pela distância e pelo fato do sujeito não poder cuidar fisicamente dos seus parentes em caso de adoecimento pelo novo coronavírus.
Neste contexto pandêmico, cuidar da saúde mental se torna uma urgência para que conflitos psicológicos não venham a resultar no adoecimento psíquico. A aceleração do uso e da regulamentação de tecnologias para atendimentos on-line por trabalhadores da saúde, provocada pela necessidade do isolamento social, nos possibilita que imigrantes ao redor do mundo tenham acesso a profissionais que compartilham de sua própria cultura e idioma o que facilita no processo terapêutico.
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